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19 de setembro de 2025

Comércio mantém saldo positivo de empregos, mas enfrenta alta rotatividade no varejo


Dados apresentados em reuniões das regionais do Conselho do Comércio Varejista da FecomercioSP apontam resiliência na geração de vagas, mas evidenciam desafios estruturais de retenção de mão de obra e custos elevados para os empresários

O mercado de trabalho no Comércio vive um momento de contrastes. De um
lado, o setor é historicamente a principal porta de entrada para quem busca o
primeiro emprego, garantindo renda para milhões de brasileiros. De outro,
enfrenta obstáculos como baixa produtividade e um efeito porta giratória, em que
muitos trabalhadores entram e saem rapidamente das empresas.

O Comércio continua entre os maiores empregadores do País, mesmo diante de
juros altos, endividamento e inadimplência dos consumidores. Porém, encara
obstáculos persistentes: elevada rotatividade e a dificuldade de reter talentos.

Segundo Kelly Carvalho, assessora da Federação do Comércio de Bens,
Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), o atual
aquecimento do mercado de trabalho traz um cenário de reposição constante.
“O setor vem registrando aumento no emprego, mas a elevada rotatividade
mostra que muitas vezes há apenas reposição da mão de obra, e não a criação
de novas vagas. Esse processo gera custos significativos para os empresários,
que precisam investir continuamente em seleção, treinamento e integração”,
pondera. A análise ocorreu durante as reuniões das regionais do Conselho do
Comércio Varejista da Federação, em setembro.

Desafios do varejo

No Estado de São Paulo, o Comércio varejista registrou, até junho de 2025, saldo
positivo de 14,1 mil vagas formais, segundo dados do Novo Caged. De acordo
com cálculos realizados pela FecomercioSP, a taxa de rotatividade até junho foi
de 37%, ou seja, de cada 100 trabalhadores contratados ao longo do ano, mais
de 30 deixaram as empresas. Na prática, o varejo substitui cerca de um terço da
sua força de trabalho a cada ano. Considerando essa dinâmica, um
estabelecimento pode levar, em média, 1,7 ano para trocar todo o quadro de
funcionários.

Apesar do desempenho, os desligamentos praticamente acompanharam as
admissões, evidenciando a dificuldade para reter trabalhadores. Para os
pequenos negócios, a consequência é ainda maior, uma vez que possuem
menos capacidade financeira para absorver os custos da alta rotatividade. Além
disso, a saída de um empregado representa a perda de conhecimento e
experiência acumulada, sendo um custo indireto para o empresário, porque afeta
a confiança dos consumidores que muitas vezes já têm a sua preferência de
atendimento.

Kelly destaca ainda que a dificuldade de mão de obra no varejo também tem
relação com o perfil dos candidatos — da Geração Z —, que buscam
flexibilidade, equilíbrio entre vida pessoal e profissional e possibilidade de
diversificar a sua geração de renda. “A geração dos chamados nativos digitais
está mais disposta a trocar de empresa quando encontram oportunidades que
ofereçam esses diferenciais”, destaca.

Outro dado relevante é que o número de trabalhadores com carteira assinada no
setor privado alcançou 39 milhões no Brasil, um recorde histórico. Ainda assim,
a informalidade segue elevada, mas sendo a segunda menor taxa da série
histórica, sendo superada apenas pelo mesmo trimestre de 2020 (36,6%) —
entre abril e junho, 37,8% da força de trabalho estava em situação informal, o
equivalente a 38,7 milhões de pessoas.

Esse movimento conecta-se ao crescimento exponencial do Microempreendedor
Individual (MEI), que já representa 53,1% das empresas ativas no Estado de São
Paulo, no primeiro semestre de 2025. São mais de 3,7 milhões de
microempreendedores individuais. De acordo com Paulo Igor de Souza,
assessor da FecomercioSP, é um dado que merece atenção. “O MEI tem
crescido como alternativa de formalização, mas muitas vezes é usado para
substituir empregos com carteira. É fundamental que o empresário tenha clareza
de que esse tipo de prática pode trazer riscos jurídicos e financeiros”, alerta.

Formas de contratação disponíveis no ordenamento jurídico

Souza frisou que a convenção coletiva firmada entre os sindicatos laboral e
patronal é a ferramenta que viabiliza jornadas e segurança jurídica às empresas,
especialmente no Comércio, que exige trabalho aos domingos, feriados e datas
sazonais. Modelos de escala e jornadas parciais são algumas das alternativas
que podem ser pactuadas, ampliando a flexibilidade e entregando possibilidades
gerenciais mais assertivas às empresas a descumprir a legislação.

Por outro lado, o formato de trabalho intermitente, considerado constitucional
pelo Supremo Tribunal Federal (STF), pode ser utilizado em períodos de maior
demanda. “Essa modalidade, quando bem aplicada, ajuda a suprir necessidades
sazonais do varejo, respeitando as regras de convocação e remuneração
previstas em lei”, explicou.

Oportunidades para reter talentos

Mesmo diante desses desafios, os especialistas apontam caminhos para
melhorar a gestão de pessoas no Comércio. Dentre eles estão a realização de
processos seletivos mais assertivos e claros, focados em identificar habilidades,
necessidades e competências, para funções nos estabelecimentos físicos e no
ambiente digital.

Kelly reforça que o varejo pode aproveitar seu papel como primeiro emprego
para criar planos de carreira. “É possível reter jovens talentos com parcerias em
programas de aprendizagem e estágios, oferecendo metas de permanência e
capacitação. A tecnologia também pode ajudar, reduzindo retrabalho e
aumentando a produtividade no dia a dia da loja”, opina.

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